O Lambadão e sua história

O lambadão é um estilo de música e dança muito popular na baixada Cuiabana, é um ritmo contagiante, suingado e acelerado. Esse gênero mato-grossense é resultado da fusão do rasqueado com o carimbó e a lambada. Frequentemente acompanhado por letras românticas ou cômicas, além de ser característico da periferia. Apesar de ser incorporado na cultura local ainda sofre preconceito com suas versões sexualizadas da dança.

Segundo o pesquisador musical, jornalista e documentarista Dewis Caldas, trata-se de uma síntese da lambada paraense com a herança do rasqueado. O gênero teve sua primeira explosão na década de 90, quando bandas de rasqueado passaram a se dedicar a ele quase exclusivamente e criaram um movimentado mercado de shows nos bairros da periferia

Em sua monografia focada no lambadão, Dewis Caldas cita as influências musicais absorvidas pelo lambadão mato-grossense: a lambada paraense e o rasqueado que, por sua vez, tem influência da polca paraguaia. No Pará, a lambada fazia sucesso nas periferias e nos garimpos. Muitos garimpeiros que não prosperaram naquele estado, foram para estados vizinhos em busca do ouro. Mato Grosso recebeu muitos grupos, especialmente nas cidades de Poconé, Rosário Oeste e Várzea Grande.

No final dos anos 80 começou a surgir o lambadão, José Morais e Junior Magrão, foram os pioneiros do gênero musical. Zé Morais foi o responsável por promover a fusão do rasqueado cuiabano com a lambada paraense e o carimbó, e Junior Magrão foi aquele que aumentou o BPM (batidas por minuto) da bateria para o novo ritmo. Os dois juntos foram responsáveis pela criação do lambadão, ritmo que movimenta a cultura mato-grossense e foi propagada a partir de Chico Gil.

Conforme Barros (2013), a cadeia produtiva do lambadão se constitui de forma essencialmente caseira, formada por familiares e materializada nos shows de bandas em bares, residências e comércios que adaptam suas estruturas para as festas. Inseridos em um processo de comunicação comunitária e familiar, pouco dinheiro é investido em publicidade e a divulgação dos eventos e festas não são feitas “pela mídia dita tradicional, mas pautada pelo boca a boca e pela agenda fixa que algumas casas dedicadas ao ritmo já possuem e mais recentemente via propaganda gratuita pela internet, apostando nas redes sociais”.

Rei do lambadão

Com o título de Rei do Lambadão, Francisco da Guia Souza ou Chico Gil, foi um cantor e compositor precursor do ritmo. Nasceu no estado de Mato Grosso, na cidade de Poconé no dia 10 de setembro de 1957. O artista já trabalhou como garimpeiro, pedreiro, carpinteiro e até se candidatou a vereador. Na música deu seus primeiros passos cantando sertanejo.

Apesar de não ter começado a carreira pelo lambadão, Chico Gil contribuiu significativamente para a popularização do ritmo. Seu nome é reconhecido pela periferia e Baixada Cuiabana, pois sua música ajudou a projetar uma nova indústria fonográfica. Essa nova indústria da música popular foi composta de sistemas não oficiais de produção e comércio.

Sua carreira teve muitos hits, entre eles o grande “hino” “Ei amigo, toque uma lambada, que eu to querendo me esquentar”. O cantor teve três álbuns oficiais lançados antes de sua morte no dia 30 de julho de 2000, em um acidente trágico de carro quando viajava para apresentações no interior.

Sucessos

No começo da década de 90 a primeira grande banda de lambadão reconhecida em Mato Grosso, chegando a levar multidões para os shows em Cuiabá e Várzea Grande, foi a banda Os Maninhos.

Outra grande banda de sucesso é Styllus Pop Som, responsável por gravar o grande sucesso “Toque, toque DJ". Essa música esteve presente em várias rádios e ajudou o Lambadão a se tornar conhecido.

Patrimônio Cultural Imaterial

Muito mais que um estilo de música e dança, o lambadão foi elevado à condição de patrimônio cultural imaterial através da Lei nº 6.318, de 26 de novembro de 2018, conforme o artigo terceiro e seus incisos, vejamos:

(...)

Art. 3º Para efeitos desta lei consideram-se patrimônio cultural imaterial do Lambadão de Cuiabá:

I - a música, letra e ritmo;

II - a dança, os passos e as expressões;

III - as festas;

IV - os cantores e os músicos pioneiros;

V - as bandas com mais de uma geração;

VI - as histórias sobre o lambadão.

(...)

A lei institui no calendário oficial de Cuiabá o “ Dia do Lambadão de Cuiabá”, no dia 10 de setembro, data escolhida para homenagear o cantor e compositor Chico Gil, o "Rei do Lambadão".

Além disso, o lambadão foi reconhecido como movimento cultural e musical em 2019, através da lei 10.809/2019, onde o Poder Público assegura a esse movimento a realização de suas manifestações próprias, como festas, bailes, shows, reuniões e festivais, sem quaisquer regras discriminatórias e nem diferentes das que regem outras manifestações da mesma natureza.